A TEMPESTADE
No mar revolto da vida, em turbilhão,
Arrebatou-me com ímpeto a tempestade,
Deixando-me à latitude da negra solidão,
E à longitude cruel de uma saudade.
Subjugado aos ventos da desilusão,
Extraviou-se meu ser na imensidade,
E procurando refúgio ao coração,
Clamei às forças do céu e à potestade.
Mas só nas noites provinha a calmaria,
Num doce abraço profundo e amiúde,
Que os devaneios do sono me trazia.
Hoje em dois mundos vivo a coexistir;
Nessa tormenta sem fim da solitude,
E na miragem que vem me consumir.
(Martinho Ferreira de Lima)
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