A Garganta da Serpente

Mauricio Duarte

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DIVÓRCIO

Nenhum quadro
na parede
nem mesmo a coruja de madeira.

A janela ainda há
embora já nenhum céu
seja possível.

Os armários todos
abertos
numa fundura inatingível.

Uma guimba de cigarro
remanescente no cinzeiro
e o vestígio colorido
de uma calcinha pendurada
no box do banheiro

(agora nada são
senão herança
de um vício distante).

As coisas abolidas
de nome e sentido:
uma máscara desabada
sobre a realidade indistinta.

O espaço
intoleravelmente vazio
de qualquer ruído.

Um frio marmóreo
trespassa os ossos
anula o inócuo movimento
em direção ao telefone.

Três minutos:

o tempo que
ele demora para
entender que uma
luz a menos arde
na tarde vencida.


(Mauricio Duarte)


voltar última atualização: 11/09/2003
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