DIVÓRCIO
Nenhum quadro
na parede
nem mesmo a coruja de madeira.
A janela ainda há
embora já nenhum céu
seja possível.
Os armários todos
abertos
numa fundura inatingível.
Uma guimba de cigarro
remanescente no cinzeiro
e o vestígio colorido
de uma calcinha pendurada
no box do banheiro
(agora nada são
senão herança
de um vício distante).
As coisas abolidas
de nome e sentido:
uma máscara desabada
sobre a realidade indistinta.
O espaço
intoleravelmente vazio
de qualquer ruído.
Um frio marmóreo
trespassa os ossos
anula o inócuo movimento
em direção ao telefone.
Três minutos:
o tempo que
ele demora para
entender que uma
luz a menos arde
na tarde vencida.
(Mauricio Duarte)
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