ESTES VERSOS DEDICO À MEMÓRIA DOS DEUSES
que
fartos de seu desconhecer
Lançaram-se frutos em abismos de nada.
Aos deuses que, cansados de plantar o que hoje é adubo dos campos,
Enforcaram-se em caules de videira,
A eles dedico este canto.
E o que eles viram,
que os fez assim arrefecer,
que os fez querer ver mais, ou nada mais querer ver;
O que eles viram,
O que nunca virei a conhecer
Permanece lá guardado
desde que arruinei o oráculo dos tempos.
Em
memória de mim mesmo manuscrevo estas curtas palavras:
De como, carcomido o fruto, brotei da semente abismal
De quando pelos templos da memória adentrei
De que lanças me usei
De quando profanei meu nome
E rosto e pele e torso
De como silenciei minha boca de filho,
minha língua de fiel.
De desde então me ser dito;
Manhã.
E pulso
Do que salta como assinalado
Pra dentro do espaço.
(Maurício Chamarelli Gutirrez)
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