AO MEU PAI
Fitando teu retrato de moço que tenho na cômoda
tento imaginar o que estaria além da moldura
porque te conheci pouco, pois cedo partiste
e me deixaste menino, aumentando em mim
a saudade e a necessidade de tê-lo.
A falta que tenho de ti
não se compara a nada que conheço,
uma vez que tua ida, sem despedidas, causou-me um vácuo
e o abraço não dado no momento esperado e preciso
fez de mim um ser de braços abertos a esperar no vazio.
Não sei direito onde estás, mas percebo-te muitas vezes,
embora invisível, vejo tua luz clara e brilhante
que me envolve nos momentos de tristeza e solidão,
confortando-me, fortalecendo-me e inspirando-me a viver.
A morte separou-nos fisicamente mas não nos tirou o amor,
esse sentimento que nos une ainda, em planos diversos
e nos faz ser um só em dois, pai e filho num só corpo,
energia única e eterna a nos misturar num todo.
Meu pai querido, emoldurado e jovem no retrato da cômoda,
de olhar fixo e vigilante a proteger-me sempre,
deixa-me seguro e estimulado na luta pela vida,
porque recebi de ti o mundo, que ajudaste a construir.
(do livro "Poemas Translúcidos", pág.
58, Ed. Espaço do Autor, 2003)
(Maurílio Campos)
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