A Garganta da Serpente

Mauro Gouvêa

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Espelho turvo

O espelho reflete o rosto
cansado das noites em claro,
a boca guarda desagradável gosto
de restos, bebida e cigarro.

A pele, ressequido pergaminho
de traçados mapas, rotas de fuga.
A barba cerrada, espeto, espinho
cobrindo desleixada cada ruga.

Os olhos sanguíneos, dilatados
de assustadas pupilas que tanto vêem
testemunhas de homens condenados
que nada têm, nada querem, em nada crêem.

As mãos trêmulas condenam, acusam
os excessos das noites e madrugadas,
são trêmulas as mãos que abusam
dos carinhos falsos das mulheres perfumadas.

A arma jaz silente na gaveta,
no tambor, a pílula da cura imediata.
A trajetória é única, fatal e reta
e o espelho testemunha o homem que se mata.


(Mauro Gouvêa)


voltar última atualização: 05/11/2007
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