A VOZ QUE OUVES
A voz que ouves agora cai no incerto
momento de amanhã e de segredo,
um dia estará morta em seu deserto,
num mundo cego, relegada ao ermo.
Apenas canto. É assim, assim que sou.
Canto porque não sei se fico ou vou.
Nada predigo: nossa história muda
como mudam as formas de Proteu.
Nos meus dias apenas este canto.
lembra de mim, pois nada mais sou eu.
Quando me renderá na minha sorte
a experiência extrema dela, a morte?
Quero afundar no seu olvido límpido
pois só cantei, sem sequer ser ouvido.
(Sonetos Shakesperianos In Poemas da luz inesperada, 2005).
(Maria da Conceição Paranhos)
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