A Garganta da Serpente

Maria da Conceição Paranhos

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ROSA DE LUXEMBURGO

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!".
(Malhas que a história tece).

Em um mil novecentos e dezenove.
Nas pétalas, a mira de um fuzil
devastou a corola dos sonhos
- em 15 de janeiro, e o silêncio.

Palavras?

O silêncio é a maior das represálias.
E nada em ti falava mais,
nas águas rubras do canal Landwehr.

No canal abandonado
que a brisa nem mesmo aquece,
de balas trespassada
-muitas, de lado a lado -,
jaz morta, e arrefece.

Vermelha, essa rosa?
Rosa de sonho e metal -
em busca da face humana.

Morre a cada ano na cidade amada,
Berlim, no horror de suas garras:
a difamação tem sua própria história.

Inimiga da Revolução de Outubro?
De um Lênin dito bárbaro e asiático?

Imaginava um mundo
em que os homens pudessem
cantar nas ruas, libertos
da humilhação, fome, e do medo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!".

(Malhas que a infâmia tece).
Jaz morta, e apodrece,
a menina de sua mãe.

A ficção da mácula,
suas raízes profundas,
não tocam mais naquela mulher
em seu pensar indômito,
na rosa da quietude,
irmã das estrelas, cega,
para sempre cega,
para sempre nossa
rosa da esperança.


(Maria da Conceição Paranhos)


voltar última atualização: 05/06/2007
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