A Garganta da Serpente

Miguel Carneiro

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BALADA DE UM HOMEM APAIXONADO EM
MEIO AO LUAR NA BAÍA DE TODOS OS SANTOS

Dos meus olhos cintilam faíscas vermelhas
Que incendeiam como fachos de fogo
Teu lençol encharcado de suor e centelha
A boca vermelha, rubra de tanta paixão
Busco na madrugada me embeber de tanta predileção.

O hálito delicioso de estranho almíscar
Envolve-me num clima de verdadeiro estupor
Respiga na memória as ancas belas de meretriz
E minha mão desliza na tua escultura verniz
Moldada em febre por Camile Claudel.
E o lençol do véu
Lentamente descubro na penumbra desse meu céu.

Trêmulo de ardor dessa paixão
Toco com a ponta dos dedos
O bico eriçado de teu peito mortal
E como um bebê que busca a mama
Sugo com sede teu fruto abissal.
Revira-se, então, com pose de gazela,
E como um caçador de estepes africanas
Lanço o falo em tua gruta aveludada e bela.

Pego teus cabelos sedosos e macios
Mergulho os dedos na direção
De teu rosto de porcelana chinesa.
Repousa enfim em meu peito de esfinges.
Lentamente adormece, e à francesa
A lua cruza a abóbada celeste
Em direção ao Japão.


(Miguel Carneiro)


voltar última atualização: 24/11/2007
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