A Garganta da Serpente

Miguel Carneiro

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HÁ UM CORPO EM CHAMAS DE UM HOMEM NO PANTANAL MATOGROSSENSE

Em memória de Francisco Anselmo Gomes de Barros, "Francelmo"

Domingo,
dia que Deus descansou depois da labuta
após criar o mundo:
de céus, planetas, terra, rios, mares,
bichos, plantas e o homem sobre a face da terra.
Em Campo Grande,
Iracema Sampaio
chora.
Dom Pedro Casaldáliga
ora.
Manuel de Barros
procura sentidos nesse gesto.
Almir Sáter e João Bá
se perguntam
porque o Tuiuiú está em silêncio?
Na Bahia,
meu avô, Augusto Asclepíades, diria:
"O mundo termina em fogo."
Mas, não durmo,
e minha mão arde,
nessa lembrança de fogaréu.
Por que, heim, Anselmo,
foste tão glorioso na tua própria coivara?
Eu, sei,
Sabino Alves Sampaio
está perplexo diante das labaredas.
Há em mim
essa vontade incomensurável
de te enviar para te salvar:
caminhões de "Paraqueimol".
Os peixes ainda conversam,
falando de tua história.
São tambaquis, piranhas
na mansidão dos igarapés,
entre garças e jacarés.
O Bugre te louva.
E até penso
que o povo de Mato Grosso,
de Tocantins,
do Pará,
fazem de tua chama,
luzeiro de um novo tempo
que se descortinará.
Nós,
ficamos por aqui,
doidos de dores.
Enquanto
Tu queimas numa praça de Campo Grande,
eu peço ao Cão,
que pare com toda essa devastação.

(14/11/2005)


(Miguel Carneiro)


voltar última atualização: 24/11/2007
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