O Vestido
Este vestido frio e transparente
Deixa-me exposta aos quatro ventos
E me faz cavalgar meus desejos
Encima de um unicórnio alado
Soltas as estribeiras
Um violino amordaçado
Reprime o som de suas cordas
A velha esmaga o fumo no canto da boca
E a sereia canta contemplando-se no espelho
Lá longe a garotinha chora ausência da mãe
E eu completamente nua
Refletindo sobre a dor no meu seio solitário
Fabrico asas de penas para me cobrir
E debulho milho em perolas noturnas
Cantando uma cantiga de ninar
Uma voz rabugenta fala
Com jeito de criança envergonhada
- Sou mulher e não vi o tempo passar
Tão nua estou eu neste vestido!...
(Maria J Fortuna)
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