A Garganta da Serpente

Maria José Zanini Tauil

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NO PAÍS DA GRAMÁTICA

Vamos ao país da gramática?
Mas o que dir-se-ia
para quem lá chegasse?
Diria
que a Dirce ia também?
Seja bem-vinda, amizade,
ou Benvinda é a recepcionista
que diz com toda a propriedade
"Achegue-se e fique à vontade,
tenha total liberdade!
Quem diz ter "menas" saudade
também tem menos gramática
e não podes concordar
se alguém te diz "nós vai"
Jure! Não queira ir!
Mas ...se falares
com tantos diminutivos,
eu caibo em qualquer lugar
e de mim, não vais duvidar
nem usar cacofonia
para que da boca dela
as palavras saltem
provocando ecos
ou rimas desagradáveis
É lento
meu tormento,
pois meu pensamento
é teu nesse momento...
Nã me faças cometer
um barbarismo fonético,
já cansei de te falar
em linguagem poética
que não é minha líbido...
é a libido (paroxítona)
que está em alta, meu bem
Se o rei reina reluzente
nem quero usar colisão
para compor tal declaração,
beber copos de besteiras
encontrando embriaguês e lucidez
entre metonímias e antíteses...
Ser um sábio ignorante...Que paradoxo!
Se eu te mandar viajar
para o reino de Deus
ou disser que morra de tanto amar,
em eufemismo ou hipérbole,
estarei generalizando
e no plic plic
da chuva que cai lá fora
de forma onomatopáica,
chegarei à gradação ou clímax,
com organizada enumeração
Chegaremos juntinhos então
ao país da gramática
contidos,
temerosos,
assustados...
Empregaremos vários conectivos
para compor um polissíndeto,
porque por aqui
conheceremos a língua pátria.
O negócio é não dificultar,
e entender,
e aprender,
e desaprender,
ou então,
acabar detestando a gramática...


(Maria José Zanini Tauil)


voltar última atualização: 12/10/2007
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