DA NASCENTE À FOZ
Percorro
teus recantos
com paciência
Minha língua é o rio
que atravessa países
faz-se nascente
na tua boca molhada
e tece o seu caminho
apaziguado e cordato
águas tranqüilas
indolentes
fecunda as margens
cria afluentes
leva o sim e o não
rastejante
como a cobra no cio
se deliciando
com a visão do percurso
na escolha
do itinerário certo
sem perder o comando
do chão que se deixa
rasgar
que se rende
e se entrega
Aventura de ser rio
para além do que importa
nem alga
nem junco
já bem perto
da Terra do Sol
onde vai desembocar
Floração ali se medra
e tudo que surge
é de pedra
fogoso...de pedra
mas o rio
não quer contornar
ele deseja vencer
a eternidade da pedra
fonte de mil desejos
vento forte
hálito de aurora
densa folhagem
no sopé da montanha
cintilações do monte
com o rio que se ergue,
profano
e se apossa do cume
e fica redondo o céu
lançando estrelas cadentes
pétalas de rosas
pássaros cantores
beija-flores
E a imensa montanha
estremece
um terremoto...
O rio, feliz,
recebe todos
os fragmentos...
(Maria José Zanini Tauil)
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