A Garganta da Serpente

Maria José Zanini Tauil

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QUERO...

Quero uma noite de insônia
para escrever o meu poema
vendo o céu carregado de estrelas
coroando a moldura da minha janela
Quero ouvir o mar gemendo na noite
chorando de saudade
ou cantando de esperança...
A ele, a areia se entregando
como uma mulher se entrega
ao homem amado
Quero no noturno silêncio
na sombra de visões estranhas
perceber os perfis das montanhas
e a terra se vestindo de luar
Quero me apoderar
de um sentimento de amor
no cenário da noite quente
no crescente clamor do mar
ferindo a silenciosa paisagem
com ondas coroadas de espumas
Quero que me surjam na mente
as visões do passado
e releiam num coro imponente
as páginas mortas de outrora
Quero que nas tréguas das águas
as ondas recuem
e caiam gotas dos quiosques
como lágrimas brancas
diamantadas à luz dos postes
Um choro assim, como o meu agora...
Quero ver o amanhecer chegar
e as gaivotas cortarem o espaço
velas brancas palpitarem com a brisa
e nas escarpas crescerem
as músicas de pássaros festivos,
pássaros cantores que prenunciem
uma linda manhã de sol
Quero ver ainda uma vez
o mar se calar e as ondas recuarem
para regiões insondáveis
desse imenso oceano
onde devem morar os maestros
que ensaiam as fugas de Bach,
as sinfonias de Beethoven
com a orquestra das marés
Quero que as lembranças vagueiem
sob meu presente enfermo
e meu futuro incerto...
Sobre minhas fraquezas e desacertos
Sobre a capacidade de me entusiasmar
por coisas nobres e belas
Quero me apossar da inspiração
dos poetas sonhadores
dos que escrevendo até esquecem
os deveres supremos...
supremas renúncias
Sim, quero ver o amanhecer
a carícia dos primeiros raios de sol
dourando o aquático espelho
Quero bocejar...
sentir o cheiro do café
Fechar a janela, escurecer o quarto
e me entregar aos Noturnos de Chopin
e aos braços de Morfeu...


(Maria José Zanini Tauil)


voltar última atualização: 12/10/2007
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