Noturna
Na superfície fria entre o ideal e a paixão
Sentia o céu delicadamente recortado em renda
Por entre as pequeninas folhas de uma frondosa copa
O silêncio estava dentro de mim, profundo...
Silêncio de abismo...
Ao meu lado, imponente, um demônio poderoso
Expresso sem a costumeira máscara, sorrindo...
Já velho companheiro, sua tortura é quase carinho...
A fina renda do céu escurece por trás das folhas
Aconchegada entre os espinhos bebo devagarzinho a minha alma
Algo de mim se derrama e perde-se na terra
Para o intenso prazer desse demônio... Esperança
O cheiro da tempestade me toca imperioso
A quase noite sem lua me lembra de ir
Sem me dizer pra onde...
Difícil desentranhar minhas raízes dessa terra onde me derramei
Queria ficar até o frio adormecer e, na escuridão, não
ver mais a renda do céu
(Mônica Fernandes)
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