Amor Pagão
Não digo que te amo, por medo de ofender-te...
Teu julgamento me machucaria calmamente a alma e
Tua grandeza haveria de condenar minha simplicidade
Seria insuportável ver esmagada a intensidade do meu sentimento
Por isso calo...
Mas as palavras arrastam dos meus pensamentos todos os desejos contidos
Porque também são pagãs e não têm falsos padrões
nem aparências... São livres, como eu.
Caem desorganizadas sobre o meu sono inquieto, me trazem tua lembrança...
São minhas aliadas, confidentes, meu alívio e minha dor.
São exigentes, as palavras, e me torturam profundamente se não
as alimento com minhas verdades... Com minhas saudades... Com meus sonhos...
Elas sabem de mim o que eu não sei e brincam sarcasticamente com minha
recusa em declarar a ti minha paixão... Instigam-me e me traem...
Deliciar-se-iam com tua rejeição, com a concretização
de todos os meus medos.
Mas hei de manter-me calada, pois sei que jamais receberias meu amor...
Ele seria, para ti, algo inferior, incompleto... Sujo talvez... Não,
não... Hei de calar, sempre.
Só as palavras saberão da minha delicadeza branca, do meu cuidado
e da minha adoração... Um amor pagão de querer infinito,
de anseios misturados, de carinho e de fogo... Lindo, mas vão.
Livre apenas entre as palavras traidoras e a solidão de tua ausência.
(Mônica Fernandes)
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