A Garganta da Serpente

Mônica Fernandes

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Manhã

A densa névoa branca era deliciosa carícia
Um cheiro de coisa nova, o brilho da Lua Mãe
Por onde quer que eu olhasse, em tudo que pudesse sentir
A umidade gélida e fértil descia sobre meu rosto
E o Sol ainda estava longe de nascer
Cada pequeno ramo, folha e flor dormiam
Imersos no profundo silêncio dessa manhã branca

Eu quis andar sem pensar em nada,
Mas você me invadiu tão mansamente
Que desejei sentir a promessa do seu sorriso
A possibilidade da infinidade num só momento
O sentimento todo do mundo num só olhar,
A profundidade do oceano num só toque

O Sol nascia exuberante, violentando
Cada diminuta partícula de umidade
Aos poucos, a delicada teia fria foi dizimada
Pelo poder eterno do fogo,
Era a vida impiedosamente quebrando o sonho
Vi tudo se desfazendo tristemente...

Meus sonhos clarearam com o dia
Perdeu-se a delicadeza branca da manhã
Apagou-se o brilho da Lua
A realidade da sua impossibilidade fez-se concreta
Minhas fantasias minguaram na correria do dia
Apenas para renascer com as estrelas
E, mais uma vez, morrerem com o Sol
Sem nunca achar morada segura
Sem nunca passar de esperança


(Mônica Fernandes)


voltar última atualização: 17/08/2009
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