A Garganta da Serpente

Mônica Fernandes

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Fora de mim

Surpreendeu-me as 13:00h o dia chuvoso
não por estar nublado, mas por existir fora de mim,
por haver mundo, ainda que pálido e frio como eu
O movimento débil das copas era tumulto...
As gotas da chuva caíam triunfantes, ferindo-me
Arrastava cada passo... temerosa de ser o último
Ouvia o silêncio rir-se de mim, impiedoso...
Aquele dia real era ameaça terrível, monstruosa!
Recolhi os olhos ao chão atenta, respiração imprecisa.
Queria sobreviver...pra quê? Deveria entregar-me mansa...
Deixar o peso do tempo esmagar-me a alma devagar...
Morrer sorrindo de alívio por não ouvir mais a chuva
nem sentir a pele arrepiar-se de desejo com seu nome.
Os olhos do mundo, indiferentes a mim, vigiavam o vento...
Eu era outro corpo, imprestável resíduo de sorriso perdido...
Não vagava, mas seguia, como garça moribunda e sozinha...
Queria voltar para a escuridão dentro de mim, conhecida...
A tortura dos meus demônios era mais suportável que o dia.
Meus fantasmas me esperavam gentis, sem pressa...
para sufocarem-me com seus dedos gélidos e retorcidos...
Suas faces escuras não me assustavam tanto
quanto aquela tarde quieta, cruelmente chuvosa...


(Mônica Fernandes)


voltar última atualização: 17/08/2009
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