breve discurso em defesa da indecência
nem no monástico silêncio dos cegos, nem no escuro
sonoro dos surdos há
mundos tão mudos
ou palavras tão plenas
de
nada
e vazias
de sentido
como na língua lânguida&engalanada
desses
eruditozinhos
de beira de estrada
[
com sua voz sisuda
e semi-tonada
pros nossos ouvidos-palatos
de
alfa anal fabetos,
ex-
pulsos
como flátulos
do paraíso
poético
apenas porque o nosso corpo é mais protéico
do
que o nosso espírito
ou
seria porque o nosso falo famélico
fecunda mais fêmeas que a sua filistéica fala?
declaram que não
sabemos sânscrito nem lingala,
nem grego antigo nem alemão, vociferam
que
a métrica
é mais importante que
o nosso tesão e
o dark, dark, dark. they all go into the dark.
até a joana dark
até o clark kent
até descartes
até a pop art é mais cult, oh my heart!
mas
um prepúcio vale mais que um precipício
um boquete vale mais do que um bouquet
mais valem duas vulvas voando que um verso na mão
uma suruba vale mais que mil palavras
e um poema, no mais das vezes
não vale nada
pois, senhores, o que gritamos é a vida
e não a regra
; nem a que se escreve
nem a que se caga.
-
as palavras, senhores
são águias rapinas
não
trinos da moda;
e
as rimas
[ mesmo as pobres, oh camões!
são ricas,
quando cantadas com a ponta
da
pica,
na
cadência bonita da
foda.
(m.r.mello)
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