A Garganta da Serpente

m.r.mello

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breve discurso em defesa da indecência

nem no monástico silêncio dos cegos, nem no escuro
sonoro dos surdos há
mundos tão mudos
ou palavras tão plenas
                 de nada
e vazias
      de sentido
como na língua lânguida&engalanada
                          desses eruditozinhos
de beira de estrada
             [ com sua voz sisuda
e semi-tonada
pros nossos ouvidos-palatos
                         de alfa anal fabetos,

ex-
pulsos
como flátulos
do paraíso
poético

apenas porque o nosso corpo é mais protéico
                                  do que o nosso espírito

              ou seria porque o nosso falo famélico
fecunda mais fêmeas que a sua filistéica fala?

declaram que não
sabemos sânscrito nem lingala,
nem grego antigo nem alemão, vociferam
                      que a métrica
é mais importante que
o nosso tesão e

o dark, dark, dark. they all go into the dark.
até a joana dark
até o clark kent
até descartes
até a pop art é mais cult, oh my heart!

mas
um prepúcio vale mais que um precipício
um boquete vale mais do que um bouquet
mais valem duas vulvas voando que um verso na mão
uma suruba vale mais que mil palavras
e um poema, no mais das vezes
não vale nada

pois, senhores, o que gritamos é a vida
e não a regra
          ; nem a que se escreve
nem a que se caga.
                - as palavras, senhores
são águias rapinas
            não trinos da moda;
                                  e as rimas
        [ mesmo as pobres, oh camões!
são ricas,
quando cantadas com a ponta
                da pica,
                na cadência bonita da
foda.


(m.r.mello)


voltar última atualização: 25/02/2010
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