Carrilhões
Sou o tristonho sineiro que moureja
fiel às vozes do além, surdo às vozes do chão-
sou o Quasímodo novo e pobre, em minha igreja
Nossa Senhora da Imaginação.
Invisível igreja! Igreja da Lei Nova!
Templo de naves de ouro e pórticos de luar!
Amo o teu campanário espiritual que trova...
(Amem todos o incenso... outros -o altar!)
Amo o teu harmonioso campanário
Imaginário
e inatingível -a vibrar
estas rimas e sons -que, solitário,
escuto, limpas, limpo no ar
a gorjear.
Amem outros o altar, amem outros ou incenso,
sejam mestres -rabis ou deuses da oração...
Serei na torre só.
Sinos! Tudo o que penso
Ecoai longe do pó,
musicai na amplidão!
Rolando ecos no mundo -oh, versos- ide zoando
interpretando a alta e sonora inspiração.
Vozes de ouro e de bronze e de cristal, vozeando -
eu só posso cantar no vosso carrilhão!
... e só posso chorar no vosso carrilhão.
...E so posso chorar... no vosso carrilhão...
(Murilo Araújo)
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