A Garganta da Serpente

Myriam Peres

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Lembranças tardias...

Lembranças, fosforescentes, de um passado distante,
Que me reavivam, com dores alucinantes
As venturas não mais vividas,
Os anelos esmaecidos,
Dos sonhos tão destruídos,
Dos desejos não mais sentidos...
Vem, traze contigo as minhas dores!
Aflora dos céus meus dissabores!
Devolve ,ao enlevo, as tuas flores!
Não me perturbe mais com meus amores...
Deixe-as quietas nas ilusões,
De retornos inconcebíveis,
Das saudades, as mais terríveis,
Dos desejos incompatíveis...
Ei-las que surgem do nada,
Dos sustentáculos imaginários,
Dos alicerces debilitados de verdades,
Das taperas, que nem esfinges,
Às mansardas, que sobrevivem
Nas aparências desoladoras.
Que se embolam, frias com suas dores...
Sê, como heras grudadas em velhos muros!
Sê, como fagulhas esparsas de fogo em secas palhas!
Sê, como os espinhos insustentáveis, dilacerando as rosas,
Mas não me escondas as lanças agudas de meu desatino,
Não me iludas mais ao leme de meu triste destino...
Deixa-me ,ao léu, ao sabor da águas,
Nem que escuras sejam de frágeis regatos
Mas de venturas, insensatas, ao redor.
Quero, apenas, que nem de costas
Acenar as despedidas de encardidas ilusões...
De me esgueirar nas outroras toscas paixões,
Para seguir outra trilha de destino fugaz,
Mesmo com a destemperança dos desatinos
Que povoam e envolvem meu destino...
Lembranças, das ilhargas soltas de muares rudes
De frenéticos regurgitares, de ímpios temores.
Dos vértices ousados não mais multicores
Das verves frementes, mas sem sabores
Dos coquetéis impuros de luxúrias vãs,
Dos embalos, dos licores amargos sorvidos sem ditames vís,
Das melodias de torpor intenso,
Das fragrâncias, sem sabor, imensas
Mas esparsas de calores, de ternuras tensas ...


(Myriam Peres)


voltar última atualização: 01/03/2002
10074 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente