A Garganta da Serpente

Nivaldo Lemos

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

VERBO HELENA

Noite.
Na confluência dos meus lábios
ainda tremulam vestígios do desejo
que tua ausência me deixou.
Que mistério, essa volúpia?
Em que matéria o amor se cumpre?
De que semente germina?
Que mecanismo o deflagra, como animal no cio,
como as águas de um rio?

Como saber se é amor, de tanta ardência,
de quase grito, de tanta impaciência!?
Amor que se confunde em cheiros,
que mesmo ausente permanece,
amor de gruta e lábios, de ninho e pássaro,
como beijos alados que conduzem
a brisa, o vento, a tempestade,
e que, depois, lindo, me dorme e me amanhece...

Ah, amor,
Essa tua umidade orgânica, subterrânea,
como um gosto dolorido de dança, grito, festa,
seio, chuva, gozo, fogo, paixão, afago,
que me alucina as mãos e me franze a testa,
é a própria condição de fêmea, que amulhece no meu corpo,
se fazendo verbo no presente do amor,
no futuro do infinitivo de teu nome,
Helena.


(Nivaldo Lemos)


voltar última atualização: 24/08/2002
6782 visitas desde 01/07/2005
Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente