VERBO HELENA
Noite.
Na confluência dos meus lábios
ainda tremulam vestígios do desejo
que tua ausência me deixou.
Que mistério, essa volúpia?
Em que matéria o amor se cumpre?
De que semente germina?
Que mecanismo o deflagra, como animal no cio,
como as águas de um rio?
Como saber se é amor, de tanta ardência,
de quase grito, de tanta impaciência!?
Amor que se confunde em cheiros,
que mesmo ausente permanece,
amor de gruta e lábios, de ninho e pássaro,
como beijos alados que conduzem
a brisa, o vento, a tempestade,
e que, depois, lindo, me dorme e me amanhece...
Ah, amor,
Essa tua umidade orgânica, subterrânea,
como um gosto dolorido de dança, grito, festa,
seio, chuva, gozo, fogo, paixão, afago,
que me alucina as mãos e me franze a testa,
é a própria condição de fêmea, que amulhece no meu corpo,
se fazendo verbo no presente do amor,
no futuro do infinitivo de teu nome,
Helena.
(Nivaldo Lemos)
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