A Garganta da Serpente

Nivaldo Lemos

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PERFIL DA PRIMAVERA

Marinheiro das estrelas absolutas,
eu me afogava no crepúsculo invisível das estátuas,
sonâmbulo tronco, como o ventre da última colmeia,
onde meninos inventavam o mundo,
entre o doce pânico do mel e o violino das abelhas.
Na paisagem de minha solidão lunar,
apenas o arco distendido das angústias.

Mas entre os corpos e a dança silenciosa,
o relâmpago de teus olhos serpenteou no infinito dos meus,
acordando as pálpebras assustadas do desejo
que brincavam na cereja púrpura do Campari,
como duas abelhas embriagadas.

Eras uma fogueira de jasmins incendiados,
como as espumas comovidas do oceano,
onde eu colhia o vinho, o trigo,
a rosa marítima de teus beijos.

Mas que anjo mágico ou pássaro planetário
esculpiu teus seios como quem inventa a febre,
o fogo, o lírio, a asa nua do prazer?
Que mecanismo fez teus lábios flor de açúcar,
gota de aurora, brisa vertiginosa das salivas?

Ah, abraço teu corpo como quem abraça a primavera!
Recebo teus beijos como quem desfruta estrelas!
Estranha geografia do teu corpo,
em cuja pele habitam borboletas incendiadas
e onde os anjos açucarados das maçãs
fabricam a saudade a cada ausência,
como quem recolhe o perfume amarelo das laranjas:
entre a solene poesia e a infância transitória do silêncio!

Ah, Helena!
O meu desejo é como um lírio acorrentado à lua,
à espera da bailarina ninfa do teu corpo,
como um pássaro enamorado pelas nuvens
que descobre no infinito das manhãs
a pele macia da aurora nua.


(Nivaldo Lemos)


voltar última atualização: 24/08/2002
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