A Garganta da Serpente

Nuno Miguel Moreira Vieira

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Desapareci

Estiquei-me,
Cheguei perto e desapareci…
Cheirei o cabelo,
Acariciei os teus lábios e sorri,
Disse-te adeus e desapareci…
Evaporei-me em pleno ar,
Sai cabisbaixo,
A chorar.
Soltei beijos,
Sem me preocupar,
Onde iriam cair,
Quem os iria ver,
Que pés,
Os iriam calcar…

Ouvi a musica,
As pessoas a passar,
A correr, a gritar…
Vi as luzes,
Vi o reflexo da alegria
No rosto velado,
Do teu coração…
Lembrei-me nada mais ali fazia,
Que o meu lugar não tinha mais cadeira,
Não tinha mais espaço,
Nem ar, nem razão.

Chorei-me,
Entupi-me do que resta de ti
Na minha imaginação.
Saturei a circulação,
Dei cabo da análise,
Justifiquei a baixa,
Deitei-me, sorri
E desapareci.

Este rapaz desiste,
Descansa as mãos nos bolsos
Reconhece-se pálido,
Cabisbaixa-se,
Rebola o cabelo por entre os dedos
A tremer,
Pensa e sente a barba crescer,
Respira,
E expira de seguida…
Olha o espelho de si
No passado
Que nunca se passou,
Vê o que nunca foi,
Vê que a sua mão nada agarra
Só as rugas do tempo
E da memória,
Sente o frio
E merece-o.

Este rapaz sou eu,
Flagelei-me,
Torturei-me,
Penetrei-me de agulhas de dor,
Raiva, desilusão
Por tudo aquilo que não vivi…
Lembrei-me uma vez mais
Do teu sorriso e olhar
E desapareci.


(Nuno Miguel Moreira Vieira)


voltar última atualização: 07/08/2006
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