Mendigo
A noite escorrega,
E cai.
Desprendem-se do manto escuro
As estrelas, uma a uma.
Deixam rastro de luz,
Deixam saudade,
Deixam uma memória
Uma vida,
Apenas uma.
A noite cai
Sem saber porquê.
Desaparece,
Sem saber bem onde.
Ela grita no vazio
E ninguém consegue ouvir,
Ela perde-se estrela a estrela,
Ganha nuvens espessas
Que a envolvem e enterram
É solidão,
É deserto, é frio
Apenas mais uma vida
E uma noite,
Sem sonhos, sem sono
Sem nada mais que uma bala,
Uma poça de sangue
E abandono
Sem uma palavra,
Sem outro som que não
O silvo da estrela a cair,
Desprendendo-se do manto da noite
E descendo
Até se extinguir
Na noite,
Sua companheira e amante
Uma lágrima cai.
O vento, que tantas vezes
Te sussurrou sonhos e ilusões
Deixou de soprar.
Os jornais que te envolvem agora
E sempre, contam histórias de embalar
Que perdes para sempre
Apenas porque morreste
E a noite não existe mais.
Não mais olharás as estrelas,
Não mais contarás histórias
Apenas pela ilusão,
Não mais terás fome de vida,
Não mais!
Não te atreverás mais a sonhar!
Não mais!
A tua pele áspera e rija,
Jaz, é agora chão
É pedra de calçada
Que foi cama tua,
É madeira de banco de jardim,
Teu confidente,
É cidade,
Tua carrasca
É campa, é pó,
É tudo que sonhaste,
É teu!
Mendigaste o ar que gastavas,
Respirando, existindo,
Mendigaste a vida
Que nunca foi tua
Foste espelho ignorado,
Foste dejecto perdido
Nunca recuperado,
Alma vencida,
Pura,
Desconhecida.
(Nuno Miguel Moreira Vieira)
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