A Garganta da Serpente

Otavio Studart

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VIOLADO

Sem jamais perder a noção de direção
Sem jamais esquecer teu olhar confuso no tempo
Consolido meu medo na guerra e paz.
Recomponho um passado ante o desatino.
Engano o empenho no esboço esquálido da ternura.
Memorizo as margens e esqueço das curvas
num descompasso desastrado.

Assombrações molestam e desencontro o trajeto.
Diluo risadas dissonantes no som sem serventia.
Nas cobranças devidas, sou eu o devedor
Sorte ao ser formado, ofendido retorno, trovador
sem ter ouvido nada, faço da ausência, miséria.
Minha lucidez é maior que as sombras que me rodeiam
Estranha é a destemperada lucidez
que insiste em aspirar esquecer teu rosto
Por não haver garantia de ancoragem
guardo tua força no porto da mente.
Por não existir dormentes
bato estacas na alucinada solidão.
Planejo meu encontro
com todos meus ciúmes,
e volto a aprender a volitar
e buscar o alucinado temporal,
onde posso optar pela placidez
do meu ser só
e fincar meus descalços pés no chão.

Só assim, sem ter conhecimento do irrestrito
experimento o efeito da alma quando transborda
na certeza que a parceria é mundana
ante o meu caráter incidir no comum
e jamais abrigue no meu lugar o embuste.
Deságuo no seu oceano agora,
Porque aspiro chegar à sombra
do teu desajeitado abraço.

Sem desejar olhar para trás
Para jamais encontrar o teu tempo.
Invento momentos, para jamais permitir
que meu eu esqueça do teu você.
Ao preferir, intensos momentos
e desvendar tuas marcas
sem revelar tua possível volta
pelos teus, meus,
nossos períodos violados
e por deixar a tola lágrima
rolar sem nem ao menos se importar.


(Otavio Studart)


voltar última atualização: 23/11/2009
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