A Garganta da Serpente

Paulo Garcia

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DOCE TESÃO

E que o sabor das uvas
seja agora o teu beijo.
Tuas mãos, minhas pernas.
Tuas pernas, minha cama de pregos
pra que eu seja faquir do teu corpo.
Que a tua saliva me afogue todas as noites.
Que meu hálito infeste o teu.
E que teus gritos e gemidos
estremeçam o coração das pessoas.
Que o nosso gozo seja um só,
como sangue de mãe e filho.
Que a tua vida possa explodir
em raios de cores inexistentes.
Que nossos passos ganhem sentido a cada momento
e percam o sentido a cada encontro.
E que a cada manhã
minha felicidade dependa da sua...
Que desmoronem castelos.
Que virem festa os velórios.
Que desapareçam demônios.
E que eu encontre em teus seios
o acalanto divino do cosmos.
Que fêmeas possam ser machos
e machos descubram a feminilidade.
Que a idade não conte.
E que a morte seja ponte
para os prazeres celestiais.
Que meu toque
seja um choque de alta tensão
pra queimar amarguras e dores.
E que flores
se espalhem pelo mundo eternamente.
Pois ser como a gente vai virar uma lei,
onde rei e rainha
comerão com os súditos...
Que eu morda teus flancos
com um carinho felino,
pra que a cada noite
eu possa ser teu menino.
E abarrotar os teus sonhos
de orgasmos futuros...
Que você se perca em meus pêlos.
Que experimente meu néctar.
Que se limpe com minhas bênçãos.
E tenha em seus ouvidos
meus constantes sussurros de amor.
Que eu possa te banhar nas fontes de sabedoria
e sugar teus pensamentos sobre nós.
Que você me ache no teu nome e me chame assim.
Que eu me rasgue de alegria
e que você se vista de cansaços passageiros.
Que as expressões do meu rosto
possam espelhar o Deus que você não vê.
Te livrar do marasmo.
Te levar à uma loucura sadia
e te arrancar das entranhas uma linda oração.
Que a gente se cace por todo o planeta
nas luas de outono.
Num doce tesão...


(Paulo Garcia)


voltar última atualização: 07/08/2003
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