A DAMA DE NEGRO
Naquele lugar tão cheio de gente
senti a solidão, detestei este momento
não queria nada, nem conversar com ninguém
era uma festa muito maçante e chata.
Volvi os olhos num ponto fixo daquela amplidão
e vi, com assombro, uma bonita visão
uma figura distinta; vibrei com emoção
ao sentir, palpitando forte, o meu coração.
Fiquei maravilhado com aquela bela cena
observei os seus lindos olhos, a sua candura
o seu ar meigo espalhando ternura
seus delicados gestos denotando formosura.
Ela estava sozinha; como eu.
Seus amigos foram embora; como os meus.
Vagava sozinha, sem destino; como eu.
Vestia um vestido negro; sentimentos negros, como os meus.
Queria falar com ela, ouvir a sua voz
saber como se sente, calar a sua solidão
fazê-la sorrir, rir outra vez
conhecer o seu nome, repeti-lo com devoção.
Tomei coragem para falar-lhe; eu não a encontrei.
Ela estava ausente; eu a perdi.
Quis mostrar meus sentimentos; eu não os expressei.
Perdi a minha chance; muito, eu sofri.
Eu conheci o que era amar
não era mais um homem comum.
Eu não nasci poeta:
ao vê-la, ela me fez tornar um.
(Paulo Kamiya)
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