A Geração do Gozo
Nós, que escutávamos
Os gemidos dos corpos
Confessavam-nos sua angústia ancestral
De ser vítima
Da moral.
Nós, que compreendíamos os corpos
Suas vozes soluçando
Um balbucio plangente.
Nós, que os liberamos
E esboçamos nosso estilo
No seu couro macio.
Nosso ferro e fogo
Criaram nossa insígnia
Em ardentes feridas.
Nós, que a urros e gritos
Tomávamos a sombria noite
Para nosso coito em plenilúnio.
Nós, que forjamos um rito
De danças embriagadas
A manter a moral à distância.
Nós, que margeávamos a luz
E adentrávamos nas cinzas nuvens
De nosso espírito embriagado.
Nós que arrancávamos o vinho da terra,
Sangrávamos a terra
E granjeávamos sua vividez.
Nós, que entorpecíamos a beleza
Com o sangue da terra
E pisávamos em seus cumes com ódio.
Para rirmos
Daqueles que caíram
Dos que não suportaram.
Fodíamos com anjos
E seus cantos
- gemidos celestes -
Foram o orgasmo do céu.
Nós, que do alto
Erguíamos nossas cabeças
Para caçarmos a vítima.
Eis que a encontrávamos
Tremendo de frio, de medo,
De infatigável fobia.
Nós, que éramos amáveis
E a abençoávamos com
Preciosos golpes.
Nós, que apedrejávamos a ti,
Por tua malícia
De querer convencer-nos.
Houve um código, uma regra,
Houve uma vida,
Que o prazer regia tal qual um tirano.
Deus?
Nós, que o deixamos
Em seu delírio criativo
De tudo querer e possuir.
Nós, que amávamos os sofrimentos
Do Cristo, e de sua paixão
Auferimos o merecido gozo.
Nós, que somos os filhos do gozo
Que o conhecemos
Em uma era primeva.
(Paulo Roberto Ferreira)
|