A Garganta da Serpente

Paulo Roberto Ferreira

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A Geração do Gozo

Nós, que escutávamos
Os gemidos dos corpos
Confessavam-nos sua angústia ancestral
De ser vítima
Da moral.

Nós, que compreendíamos os corpos
Suas vozes soluçando
Um balbucio plangente.

Nós, que os liberamos
E esboçamos nosso estilo
No seu couro macio.

Nosso ferro e fogo
Criaram nossa insígnia
Em ardentes feridas.

Nós, que a urros e gritos
Tomávamos a sombria noite
Para nosso coito em plenilúnio.

Nós, que forjamos um rito
De danças embriagadas
A manter a moral à distância.

Nós, que margeávamos a luz
E adentrávamos nas cinzas nuvens
De nosso espírito embriagado.

Nós que arrancávamos o vinho da terra,
Sangrávamos a terra
E granjeávamos sua vividez.

Nós, que entorpecíamos a beleza
Com o sangue da terra
E pisávamos em seus cumes com ódio.

Para rirmos
Daqueles que caíram
Dos que não suportaram.

Fodíamos com anjos
E seus cantos
- gemidos celestes -
Foram o orgasmo do céu.

Nós, que do alto
Erguíamos nossas cabeças
Para caçarmos a vítima.

Eis que a encontrávamos
Tremendo de frio, de medo,
De infatigável fobia.

Nós, que éramos amáveis
E a abençoávamos com
Preciosos golpes.

Nós, que apedrejávamos a ti,
Por tua malícia
De querer convencer-nos.

Houve um código, uma regra,
Houve uma vida,
Que o prazer regia tal qual um tirano.

Deus?

Nós, que o deixamos
Em seu delírio criativo
De tudo querer e possuir.

Nós, que amávamos os sofrimentos
Do Cristo, e de sua paixão
Auferimos o merecido gozo.

Nós, que somos os filhos do gozo
Que o conhecemos
Em uma era primeva.

(Paulo Roberto Ferreira)


voltar última atualização: 21/09/2008
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