Gênese
À Mãe.
Nosso crime mais antigo
E o ato de uma gênese,
Foi ter em nossas mãos
O sangue de nosso pai
E em nosso corpo o sexo de nossa mãe.
Carregamos como que por instinto
Nossa formidável violência.
Nossa coragem permitiu-nos
Mais uma vez erguemos
Nosso falo ao sol
Para fecundarmos a terra.
Desse sexo,
A geração dos perversos.
Desse gozo,
A posse dos corpos.
Nossa fraternidade
Foi ter-nos reunido
Para golpear-nos um aos outros
Com o castigo secular
De nossa conquista.
Ah! A vitória
Que me obrigou
A golpear-te a face
De rosas.
Nossa lei
Tinha um só mandamento,
O de ferir-te;
Incitar-te a dor
De abrir as pernas
Para o parto.
Para te ver
Gritar,
Soluçar,
Chorar,
E gerar.
Gerar o desejo
Sempiterno
De teu sexo.
O qual exalará
Numa eternidade
O olor que clamará
Por nossa carne.
Os meus braços
Segurarão-te forte
Para marcar-te
Com as dores
De um espancamento.
E o teu sofrimento,
Esse virtuoso anseio,
Converter-se-á
Em lágrimas
Para chorar a paixão
De um pênis crucificado.
Gozaremos na tua boca encarnada
Por causa de tuas palavras indecifráveis,
E de tua língua velada
A pronunciar um idioma desconhecido.
Mas gritarás,
Ouviremos o teu gritar
Estimável
E ressoaremos teus gemidos
Pelos ventos.
Nunca esqueceremos
Que teus seios nos amamentaram;
Os arrancaremos com nossos dedos
Para erigi-los em monumento.
E quando velha
Esquecida e
Enrugada
Permanecerá somente
A recordação
De teus adoráveis seios.
(Paulo Roberto Ferreira)
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