A Garganta da Serpente

Paulo Roberto Ferreira

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Só meu sofrimento é uma lágrima

Sofro
Porque amo
Amo o corpo
Pelo qual sua existência fustiga o meu
Este corpo que me choca
E me espanca
Sua solidade visível e invisível
Me atormenta
Me comprime
Num espaço minúsculo
E há um olho
Que sorrir
De meus sentidos
Entorpecidos
E a visão já opaca
Obscura
Sente que há corpos
E vendo tu
Vendo eu
Tu que entras em minha visão
No interior
Desse meu espelho
Que eu forjei
Para a ti ver
Diluir-se
No meu espírito canino
Que late
Para abraçar-te
Para te comprimir mais uma vez
Nesses gritos noturnos
Nas florescências
De teu prazer sombrio
De teu cheiro
Aterrador
Que consome
Um Eu
Mais oculto
Que
As superfícies das superfícies
Que escorre
Por caminhos de profundidade
E o ódio
Vazio
Tenaz
Com o que perfuras
O Mar

Teus espasmos
Teus espasmos
Fortes

Meu sexo dói
Mais de uma vez
Mais de uma vez
Entre luares

Quando sinto
Teu órgão
Deglutir
Meu anseio
Ávido

O que sou agora?
Um pouco de matéria
Que se dissolve...

Ofegante
Teu corpo parece
Absorver todas as
Potências
Que impulsionam.


Ai! Um pouco mais de sedução nos teus olhos
Que é só a dor em outro corpo...

Minha voz,
Uma flor silvestre.
Muitas pétalas
Saem de uma garganta rouca.

E essa dor
Me acompanha
No meu corpo inda vive
Quase como um
Órgão...

Inquietude...
Inquietude...
O que se agita?
Não ansiará
Pela calma?

Meu espírito
Regozija-se
Com a dor...

Por que não
Deleitar a si
Com o próprio
Sofrimento?

Onde resides
Teu segredo?
Num peito esquálido,
Tísico?
À meia luz,
Ao sabor da penumbra?

Por que você me oculta
Seu corpo baixo,
Rubi escondido no
Seio da terra?

(Paulo Roberto Ferreira)


voltar última atualização: 21/09/2008
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