A Garganta da Serpente

Pedro Malta

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Noite infinita

E no final
Quando já não sobrava nada de mim
De tão diluido que estava na bárbara folia:
Com a alma ensurdecida pelos cantos
O corpo anestesiado pelo fumo e licores
E as palavras trôpegas que esvoaçavam e morriam entre baforadas...

Acordei
Confuso e assustado
Abandonei tudo e corri
Até encontrar um penhasco
Suspenso sobre a noite.

Desperto como numa revelação
Envolto pelo infinito que me acariciava na sua rapacidade
Com o vento que ecoava dos confins do negro
Eu ergui minhas mãos em reverência

E com sangue e urros na boca
Arranquei meus cabelos
Raguei minhas roupas
E jubilei-me com a nudez tão completa do meu ser

Pele, ossos, gritos e sangue
Davam lugar a algo maior.

Ali
Na noite pura
Louco só e nu
Eu abandonei o mundo alheio
E perdi-me no absoluto da imensidão
(da minha imensidão?)
Até ser noite
Até ser vento
Até ser infinito.


(Pedro Malta)


voltar última atualização: 01/03/2008
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