Rodum
Como nasceste
De que cálidas e misteriosas águas elevaste o teu corpo frágil
À condição de ser
Saberás o maravilhoso dom que trazes escondido
no
verso das tuas pálpebras
Toda a benção do desejo
E a maldição condensada de muitas vidas
Também tu serás prometeu
E moldarás o barro de água e terra
Em formas imprevisíveis e maravilhosas
Para de seguida o cozeres no fogo da existência
Também tu serás prometeu
E do mesmo ar que te alimentas
Onde vives a tua consciência aguda
Assim a tua criação te matará para ocupar o seu merecido
lugar
Encerra uma beleza arcana
Triste e jubilante
Plena de satisfação e de amargura
Este ciclo fatídico de criação
Poetas sem o sabermos
A existência é a obra
Para sempre inacabada
Colhem-se os frutos amargos da razão
Prostra-se a alma ao fim pressentido do grande poema humano
Criadores e verdugos de pais e filhos
Mas a arte da vida e da morte
Da estética espiral infinita
Sempre com esperança da vinda do verso perfeito
Este mester é a própria essência
Desta grande aventura sem rede
A quem alguém chamou humanidade
Na entrada dos tempos
Apetece abrir um intervalo entre o mar e o céu
E espreitar a verdade oculta
O horizonte não satisfaz
Mas o que está para lá
É o medo
É o desejo
De nos sabermos maiores que nós próprios
(Pedro Moura)
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