Vai-te...
Pálida sombra - que passais lânguida
No horizonte da vida - vai-te embora...
Não vês... sou triste; geme ao longe o vento
Ouves - criança - como a onda chora?
É que se foi o sonho. As flôres murchas
Cubram um dia a lousa do jazigo;
Pelas areias se deslisam lágrimas,
E essa onda a chorar chora comigo.
Cinto branco d'espuma enlaça a onda
Talvez uma lembrança que ela adore!...
Assim me seguirá, sombra inocente,
Até que a fronte no sonhar descóre.
Bem vês: silêncio! tudo aquí tão triste!...
Quantos fantasmas aos clarões da lua!
Desta vida cansado, solitário,
Vago cismado pela plaga núa.
Si ao longe as moças ao luar vão rindo,
Aqui junto de mim a onda chora...
No fim daquela praia é o cemitério
Ouves? - pálida sombra - vai-te embora...
(Rio, Maio, 1862)
(Pedro Luís Pereira de Sousa)
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