A Garganta da Serpente

Pedro Luís Pereira de Sousa

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Escuta...

Não vês - oh! virgem - pelo ceu escuro
Da tempestade fuzilando o raio?
Não vês as nuvens a chorar de luto?
Morrer a lua num fatal desmaio?...

Repara: - a fronte que eu elevo altivo
É como o quadro dêsse véu escuro;
Agora mesmo, merencória, pende
Envolta em sombras sem um raio puro.

No céu formoso corre o vento louco,
Na fronte um sôpro muito leve passa,
O vento é forte - quer dizer "tormenta"
É frio o sopro - quer dizer "desgraça".

Aquela, virgem, apagou estrêlas...
Todas morreram na amplidão imensa...
Êste quebrou-se as divinais costelas,
Raios dourados de florida crença.

Saiu do inferno o furacão terrível
Lúgubre, uivando... dêsse horror profundo!
Hálito impuro que envenena e mata
Nasceu do inferno que é chamado mundo.

....................................

Porém, meu anjo, tu me olhas triste,
Os olhos rasos - de sentidos prantos.
Perdôa, agora - si eu chorei um pouco,
Perdôa, linda - si foi triste o canto.

Lembra-te apenas que do céu tão puro
Sòmente - o rosto se tornou medonho!
Si a minha fronte se animou, escuta:
Quem foi que disse que morreu meu sonho?

(Rio, Março, 1861)


(Pedro Luís Pereira de Sousa)


voltar última atualização: 06/12/2005
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