A Garganta da Serpente

Pedro Luís Pereira de Sousa

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O Leque de Marfim

Ela estava bonita a enloquecer a gente!
Viva, fresca, feliz... gostei de vê-la assim!
Da música ao murmúrio estremecia ardente
E, rindo, machucava o leque de marfim.

Seus olhos eram negros, veludosos, puros...
Dois abismos! Dois céus! Fitei-os a tremer!
Costumado a trilhar caminhos sempre escuros,
Tenho medo da luz... Meu Deus, eu não quis ver.

Mas ela fascinava... Era um olhar, mais nada...
Rebelde, o coração nessa hora me traíu!
Aos dedos dessa virgem a ânfora sagrada
Entornando perfume á luz do sol se abriu.

Encostei-me ao piano. A chácara viçosa
Entoava das flôres lânguida canção.
Eu cismava... - sei lá! - no céu, no mar, na rosa...
E minh'alma se foi nas asas da paixão.

Bem como o viajante em regiões polares
Que recorda chorando o seu torrão natal,
E avista de repente, incendiando os mares,
O divino esplendor da aurora boreal,

Assim eu triste, só, sem sombra d'esperança,
Dos gelos da descrença aonde vim parar
Sondei aquele riso! Amei essa creança,
Foi-me aurora de amor o negrejante olhar.

Brilhe embora uma vez... Banhou-me a luz divina
Vale uma eternidade um dia sempre assim...
Sempre hei de me lembrar da cândida menina
Que rindo machucava o leque de marfim.

(9 de abril)


(Pedro Luís Pereira de Sousa)


voltar última atualização: 06/12/2005
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