A Garganta da Serpente

O Pixote

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Quando chega o tímido outono
Em seu túmulo branco e marmóreo
O céu sobre o belo campo arbóreo
Vai se enterrando em etéreo trono

Pássaros que ébrios sobrevoam o prado adormecido
Em folhas coloridas vão derramando suas agonias
E as árvores da estação desnudando-se são demônias
Que dançam pelo melancólico cenário falecido

Lagos e lagoas que abraçavam a doce alvura dos patos
Laminam em seu espelho a morte em folhas anunciada
Lagos e lagoas todos mortos já não abrasam nem os ratos
E a vida melancolicamente vai definhando sua doce risada

Outrora havia neste campo um verde belamente intenso
Com suas garças que pousavam no lago margeado pelo viço
Agora lúgubre este cenário de vida esvaído e todo quebradiço
Causa náusea na velhinha solitária que sentava-se em seu gramado vivo

Ali naquele galho desnudado e agônico há um carcará pútrido
Morto e dependurado em galho outonal mais morto do que ele
Num Sol do passado fora o fedorento carcará um cisne vívido
Que tinha uma crista alva e laboriosamente adornada em neve

Ah! Fantasma outonal! tu és a morte em minhas tristes pálpebras
Tu és o meu rancor que de meu peito decaído pulou tristezas
És um ente natimorto que habita à séculos o homem e suas nobrezas
És o galope dos senhores que morrerão como assustadas zebras


(O Pixote)


voltar última atualização: 22/02/2003
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