Os sinos da catedral badalam
Aos domingos cheios de fúria badalam
Anunciando a longa missa
É... mais uma vez haverá longa missa
Compulsivamente os badalos cantam
Irritantemente cantam seus dogmas
Arrastam do lar o senhor Tam-Tam
Que vem trajado e cheio de gomas
O relógio da praça já marca seis
E os sinos cansados ainda badalam
Tristemente eles ainda badalam
Esperando parar e começar outra vez
Lá no alto do elevado campanário
O frei corcunda badala, badala...
Como se fosse um escravo de senzala
Talvez sonhando ouvir o belo canto do canário
O senhor Tam-Tam sentado próximo ao altar
Reza, inconsciente como os sinos, reza
Orando a sua agonia, incrédulo, reza
E os sinos também incrédulos não sabem rezar
A missa chega ao momento do evangelho
E na mente dos fiéis os sinos badalam
Ensurdecem os espíritos, os abalam
Destronam a beatitude do Santo já velho
Os sinos badalam... Os badalos se cansam
Deus furioso se retira e as almas não dançam
(O Pixote)
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