Sombras
A solidão que neste momento
freqüenta as sombras de meu quarto
e está em mim como um bicho na selva,
está em tantos que da janela não vejo,
mas suponho, espalhados e anônimos
sob as luzes da cidade
e que pulsam e penam como eu
neste instante de solidão fria.
Talvez bastasse um aceno
e a solidão se evolasse na noite.
Somos tantos, que sem rosto nos fechamos
em nossos quartos e nos desconhecemos.
Privamo-nos uns dos outros,
entregues ao silêncio
da noite que se derrama.
A solidão, porém, não é de alvenaria.
Não está neste quarto assim como a vejo.
está em algum lugar na raiz de mim mesmo,
de nós todos, cobertos pela mesma noite.
(Radamés Manosso)
|