A Garganta da Serpente

Raquel Figueiredo

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Eu sou a mulher morta

Eu sou a mulher morta
As noites nascem no meu peito
Estendidas em fios de ônix
Meu rosto são retalhos e alinhavos
Eu sou a mulher morta
Vago despercebida pela multidão
Os que se atrevem a olhar
Desviam logo seus passos
Não tenho crisântemos ou sepulcro
Meus ossos se batendo um no outro
E minha sombra sem direção
Eu sou a mulher morta
Que ainda não penetrou as entranhas do mundo
Faleci num dia branco
Em que ninguém olhou nos meus olhos
Deixei os anos caídos atrás de mim
E não juntei nenhuma lágrima do chão
Não há mais pranto nem riso
Há um fogo emudecido
E as cinzas espalhadas
Eu sou a mulher morta
E não desejo a ressurreição.


(Raquel Figueiredo)


voltar última atualização: 24/04/2008
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