Como eu a sinto
Não posso fitar a tua voz.
Sei que entras por entre mortos
E ali se debruça calada ou com hinos fúnebres,
Ou mesmo carregando canções alegres sobre os ombros,
Só que quase sem melodias e de notas escuras.
Sei que vagas parada e por ti vaga a Lua;
Os poetas com seus versos no peito
Cheio de amor esquecido nos espelhos,
No fundo de espelhos pratas;
Os adúlteros apavorados em êxtase de amor,
Embriagados de sede e medo dos lagos passionais;
E casais saturados de si, seus hálitos brancos,
Suas poses sexuais descoloridas e retas.
Por ti navegam estrelas perenes
E gatos recolhidos por ermos.
Por ti navegam fantasmas e arcanjos sem luz,
Brincam crianças escondidas de Deus,
Latem cachorros,
Choram homens e mulheres debaixo do chuveiro,
E os sonhos voam nas tuas asas de penas aveludadas.
Vejo-te vasta, gasta, preta, branca, amarela.
Vejo-te como um prato transparente de abismo.
E por trás de ti até mesmo o Sol,
Foi assim que te encontrei sozinha ao amanhecer.
Nunca olhei nos teus olhos de fato,
De ti não recolhi o semblante nem os soluços.
Sinto a noite como um poema
Ou como beijo cerrado nos corpos astrais.
(obs.: poema premiado no concurso canteiros culturas de poesia)
(Raquel Figueiredo)
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