A Garganta da Serpente

Rebecca Navarro Frassetto

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Ela lambeu os pés
Na primavera de Março
Arrancou o esmalte das unhas
E a mancha de batom da camisa

Ela era forte demais pra não pensar em sacanagem
Forte e macia demais
Pra não pensar nessas coisas

Entrou numa estrada qualquer
De muitas placas e caminhos
De muita gente perdida
Com vinte cigarros na mão

Ela respirava à queima roupa
Tinha muito dessa coisa de sentidos
Cinco deles...precisamente
Cinco sentidos e um nó na garganta

Cinco sentidos e um nó na garganta
Cinco sentidos e uma bala no bolso da frente

Ela lambeu a cintura
Arrancou a roupa de baixo
Manchou a pele de batom
E as flores de suor

Ela era alegre demais pra não pensar em morte
Alegre e decadente demais
Pra não pensar nessas coisas

Abriu uma janela qualquer
Que dava pra parede
Dali nasceriam mais flores
A janela era fértil
O barulho era intenso
A primavera era morta
Escondida em vinte cigarros

O calor derretia nas portas quebradas
A paixão aumentava nos dias do cio

Ela lambia a própria língua
Seguia naquela estrada manchada
...e nunca soube muito bem onde queria chegar
Mas acreditava nas coisas do coração
Sempre que fumava um cigarro
Parada num sinal vermelho qualquer


(Rebecca Navarro Frassetto)


voltar última atualização: 17/05/2004
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