A Garganta da Serpente

Rebecca Navarro Frassetto

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Fome na garganta

Tenho a Antropofagia nas mãos
e quero mastigá-la
quero engolir
minha doce Klaxon
meu clássico, devorar

Sou poeta
que de um poeta
tem a antropofagia na mão
quero ser a antologia secreta
para comer
toda a seca do sertão

quero secar a boca sedenta
fazer da pedra uma pedra
no meio do caminho
beber tua água benta
faminta
derreter tua língua dormente
dormir sobre a pedra
pois sim
há uma pedra
no meio do caminho

quero virar heroína
engolir a fome que me corrói
serei bela
sou então Macunaíma
vomito a rima
sou herói

tenho a antropofobia
que escorre nos meus dedos
passeia pelo meu corpo
devora o ar que respiro
deseja o medo de todos os meus medos

antropofagicamente
fecho estas páginas,
de mãos dadas
minhas mãos que têm palavras
devorando meus irmãos, poetas, canibais
Bom Apetite

(Rebecca Navarro Frassetto)


voltar última atualização: 17/05/2004
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