Fome na garganta
Tenho a Antropofagia nas mãos
e quero mastigá-la
quero engolir
minha doce Klaxon
meu clássico, devorar
Sou poeta
que de um poeta
tem a antropofagia na mão
quero ser a antologia secreta
para comer
toda a seca do sertão
quero secar a boca sedenta
fazer da pedra uma pedra
no meio do caminho
beber tua água benta
faminta
derreter tua língua dormente
dormir sobre a pedra
pois sim
há uma pedra
no meio do caminho
quero virar heroína
engolir a fome que me corrói
serei bela
sou então Macunaíma
vomito a rima
sou herói
tenho a antropofobia
que escorre nos meus dedos
passeia pelo meu corpo
devora o ar que respiro
deseja o medo de todos os meus medos
antropofagicamente
fecho estas páginas,
de mãos dadas
minhas mãos que têm palavras
devorando meus irmãos, poetas, canibais
Bom Apetite
(Rebecca Navarro Frassetto)
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