O COMBATE ETERNO DO GUERREIRO INSANO
Em sinfonia de clamores lastimosos,
Homens com suas fleborragias
Esfrangalham a carne dos desgraçados.
Infausto banquete do solo anfitrião,
Que - tingido - contorce machucado,
Tossindo poeira seca e peçonhenta
Para demência dos olhos que perscrutam,
Manchados de terra e sangue coagulado.
Postado no âmago da sua peleja edênica,
Impúbere ao brandir da espada
Que asperge a seiva dos cadáveres;
Sêmen do prolongamento de seu sexo.
Longos cabelos ensebados,
Grudados por pretas crostas de sangue.
Envolto pelo brado de decepados,
Ante o estorvo de braços, pernas e acéfalos.
Alucinado; extasiado; feliz.
Sonido do tropel que se aproxima - balbúrdia.
Gritos roucos; repenicar de lâminas;
O cenário escarlate se esmaga - e chora.
Em meio ao caos montante
O risoto corta, rasga, perfura - infante.
Contido pelo respirar do machado áspero,
Põe-se incoercível no olhar;
Frauda a rústica investida do campônio;
E num ímpeto metálico cessa o encontro.
Pronto para seguir...
No ínterim: fraturas, dores, brechas ardentes;
Sangue nos ouvidos, nariz, olhos, unhas e boca.
Funestos de pé permutam espadas por mãos,
Diante da nova infantaria de moscas besuntadas.
O guerreiro lasso em seu último embate.
A vão investida explode em areia salgada - sela a ruína.
Uma réplica reluzente derruba um rosto esgazeado,
Com ela, a volúpia combatente.
Lábios tocam o chão vivo - compartilham seus pesares.
Elidi-se o berro, o odor pútrido se esvai,
Suprimi-se o vermelho pelo negro sombrio do óbito.
Entregue aos insetos antropofágicos. Ou não...
Levanta-se subitamente - assustado.
Vivo! Embora com ardências e fraturas mais vivas.
Logo surgem os belicosos da mesma imprecação.
Aquele sentir dos afortunados toma seu lugar,
Com frescas normas homicidas: enquanto aceso!
O risoto corta, rasga, perfura - infante.
Incide novamente; uma, duas, todas.
A Dor Progressiva adere em sua forma, e deforma.
Porém aceso! E corta, rasga, perfura - em prantos.
Até esmigalhar o corpo sórdido, que resvala no solo.
Para só então compreender a tosse seca e peçonhenta,
E contorce machucado.
A alma risonha cede seu adeus e esvaece.
Entregue aos insetos antropofágicos.
Mas vivo! Embora com ardências e fraturas mais vivas.
(Renato de Oliveira)
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