A Garganta da Serpente

Renato Simões

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noite na janela

tentando acordar de um sonho
estúpido, deixei-me assolar das verdades:

era escuro, e triste,
neste momento meu coração tornou-se enternecido
por tudo que havia sentido.
quiseste me beijar de uma maneira
que me entrevir por alguns momentos
senti uma neutralidade repugnante
por não saber porque fazia aquilo.

tudo que lembrava no momento,
me desligava do mundo: o meu amor.
ouvia-te resmungando alguma cousa
com importância alguma. talvez tivesse
mas não para mim.

e diligente aos meus antigos sentimentos
fiz papel de ignorante, e rudemente beijei-te
sem ao menos sentir qualquer sentimento,
a não ser o carnal.

eu impugnava seu sentimento,
enquanto me enebriava em teus seios.
molhado sentia teu corpo ao meu
desejando-me e a reciprocidade se
confirmava.

Desvelei durante semanas na espectativa
mesmo que falsa, de querer ver-te.

Na hora errada tudo aconteceu repentino
e o momento me trouxe uma sensação
que a tempos, sim a tempos, não sentia: ...

quando teu olhar de desejo perseguia-me
e minha face, a verdadeira, se mostrava
eu continha-me do verdadeiro desejo para
não machucar-te, mesmo por quereres: não pude conter-me.

ah não pude! e estúpido, ignorante e falso: beijava-te com
o corpo molhado da chuva
e dentre teus bracos, que apertavam-me forte
sentia teus verdadeiros sentimentos, que
se confudiam aos meus.

tarde voltou-me a consciência, e triste
me mantive quieto para o mundo por várias horas
e meu coração vago, ao menos pulsava pelas
memórias, que foram, verdadeiras, todavia
não tiveram qualquer condição de manter-se
inesquecíveis: como as anteriores, que tiveram
mais verdade.

posso ao menos lembrar, ou lamentar, pois
a eternidade daquela noite chuvosa, certamente permanerce-há
nas memórias de alguém: fulano, ciclano ou motoqueiro.

(Janeiro/2002)


(Renato Simões)


voltar última atualização: 06/05/2002
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