A Garganta da Serpente

Ricardo Santos

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A arte e a magia de ser poeta

Madrugada de verão. Estava quente. Como de costume, no mesmo horário, eu olhava o céu. Vi que ele se assemelhava a um imenso oceano de estrelas. Sem começo, sem fim. Naquele momento, senti-me pequenino diante de tamanha grandeza. Estava feliz.
Devaneei. Surgiam perguntas. Elas diziam respeito ao poeta. Silenciei. Em instantes, surgiam respostas. Parecia que elas caíam do céu como estrelas cadentes. Então, pus-me a poetar.
Não pode ser poeta quem não se emociona com o brilho do sol, que se põe no horizonte, com o sorriso de uma criança, com a beleza da lua cheia e o barulho das águas da chuva ou do rio. Ou com o vôo maravilhoso do beija-flor, que se desliza em pleno ar.
O poeta sabe-se pequeno diante do mistério que cerca a vida. Muitas vezes, vê o que poucos vêem. Sua percepção sensorial é aguçada, tanto quanto a de um golfinho ou pássaro. Ele não tem apenas cinco sentidos, mais que isso. Além disso, tem a riqueza de sua intuição.
Seu olhar é atento à realidade. Não pode ele pertencer a nenhuma confraria, que vive plugada em seus próprios interesses. Poeta, que é poeta, não tem rabo preso. Seu compromisso é apenas com a poesia. Solitário, muitas vezes, caminha em faixa oposta ao senso comum estabelecido.
Poeta não se escolhe. Ele é autorizado pela magia da poesia. Aliás, qualquer um pode sê-lo. Poetar, antes de tudo, é ler a vida e o mundo de forma simples. De maneira profunda e antenada, com o que ocorre dentro e fora de seu mundo.
Na poesia, o que conta é a disposição de ver, observar e repartir com o outro, aquilo que se capta partindo de sua realidade. Alguém, que é capaz de tocar as estrelas e colocá-las ao alcance de todos. Não me incomoda quem não pensa assim. De uma coisa tenho certeza. Quem é feliz e ama as coisas simples e belas, lá no céu tem uma moradia garantida.


(Ricardo Santos)


voltar última atualização: 19/04/2011
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