Eu, Porto teu
Posso ser um cidadão do mundo
Posso até querer ser livre
Como todos nós pensamos assim
Mas sempre que penso, vejo, sinto
O granito ataca-me
Frio, gélido
Lembrando-me do meu lugar em mim!
A minha voz denuncia-me,
Pois tudo aquilo que sou
Tudo o que poderei ser, em parte,
E talvez sem sentido de arte,
Apenas é uma metáfora;
Não que eu diga: Isto te dou...
Mas acabo sendo sempre uma corrida
Do rio p'ró mar...
E a cada gota que sorvo
Apenas espero que não seja a última
Pois se a vida me escapar,
Se o céu e a terra trocarem de lugar,
Não estarei cá para me recordar
Da dor de não sentir a minha vida ganhar
As asas que me faltam para me conseguir perdoar.
E ando eu... descendo calçadas
Dobrando esquinas... gente dura,
Gente simples, gente a quem parece
Que a vida tem maior aceleração gravítica;
Carregando nos seus sacos e mochilas
Todas as suas preocupações solitárias.
Na noite os carros passam apressados...
Inconscientes, despreocupados, embriagados;
Exorcismos da vidinha de merda;
De subir degrau a degrau,
Do plantar uma árvore e vê-la arder,
Do construir para depois não ficar
Pedra sobre pedra
Que tanto custou a carregar...
É madrugada, 5 da manhã;
Apenas a Bandoma mexe
Por entre o nevoeiro,
Rasgado pelos faróis
De um ou outro carro...
Dormem aqueles que foram esquecidos
Pelo granito, pela voz...
Tendo sempre a sensação de estarem sós...
(Ricardo Teixeira)
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