A Garganta da Serpente

Jean Arthur Rimbaud

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OS INICIADOS

Estranhos à nevasca e ao brumado,
Em torno do respiradouro aluminado,
Agrupados,

Ajoelhados, cinco petizes - miséria! -
Espreitam o Padeiro que fabrica a féria:
O Pão fulvo e pesado.

Observam o vigor do forte braço branco
Que introduz a massa branca
No forno brilhante.

E pressentem o bom pão que chia.
O Padeiro, sorrindo de alegria,
Bufa resfolegante.

Agora, acocorados, imotos semoventes,
Sentem o hálito do respiradouro, ardente
Como um colo fogoso.

Quando, na vigília da meijoada,
Tira-se a fornada modelada
Em brioche untuoso,

Quando, sob esfumaçados tetos,
Cantam grilos
E crostas perfumosas,

Quando, enfim, o forno quente despeja a vida,
Suas almas estão já tão seduzidas,
Sob vestes andrajosas,

E tanto se comovem vivendo,
Estes pobres Cristos na geada perecendo,
Que lá estão,

Colando suas carinhas afogueadas
À treliça - coisas cochichadas
Por entre vãos -

Todo animais, fazendo preces,
Recurvados tão intensamente para as luzes
Daquele paraíso artificial,

Que rasgam as calças
E suas camisas esvoaçam
Ao vento invernal.


(Jean Arthur Rimbaud)


voltar última atualização: 08/07/2005
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