A Garganta da Serpente

Roberta Policarpo Barreto

  • aumentar a fonte
  • diminuir a fonte
  • versão para impressão
  • recomende esta página

Distanásia

- É você, Marquês de Sade?
- Boa noite, senhorita! Optaste por teu pseudônimo favorito, Unafatal. Hoje me batizei de Sadista porque não quero que me deduzam o gênero tão facilmente.
Marquês de Sade e Unafatal se conhecem há cinco meses. Durante todo esse tempo, viram-se apenas duas vezes, já que pessoalmente são muito tímidos. Comunicam-se diariamente através da Internet, na sala de bate-papo Noctâmbulos. São quase da mesma idade. Marquês, o mais velho, tem dezenove anos.
- Como foi sua entediante aula noturna, caro cúmplice? As mesmas frases decoradas de professores robotizados?
- Acertou, mas tenho uma novidade.
Eram assaz curiosos. Uma vez instigada a curiosidade, não descansavam até saciá-la.
- Conte-me logo! Algum novo amor?
- Calma, honrosa dama! Não se trata do que estás pensando. Continuo não acreditando em romances. Se fosse para eu estar apaixonado, seria por ti! Tens preferências refinadas; és cética e bonita. Minha Vênus! Bem sabes que não gosto de elogiar. Entretanto, é impossível teclar para ti sem lisonjas. Já deves estar roendo as unhas, não? Adoro sentir-te curiosa. Acreditas que sinto tua respiração ofegante? Posso imaginar teus esféricos seios arfando. Que tortura, querida! Por que o silêncio? Orgulho? Ficas ainda mais bela quando estás aborrecida. Dorme, musa de néscios e cultos. Sonha, canta, brinca. Não permitas que a novidade tire teu sono pueril! Sou um rapaz mau, já deverias saber. Invento bobagens para te iludir. O mundo também é assim. Quem não sabe? Acordaste? A novidade é que descobri tudo isso.


(Roberta Policarpo Barreto)


voltar última atualização: 28/10/2001
5887 visitas desde 01/07/2005

Poemas desta autora:

Copyright © 1999-2020 - A Garganta da Serpente