Ócio Indócil
Meu ócio não é criativo,
Mas revelador indócil
Das minhas reflexões.
Porque ele referve os fluidos das minhas ilhas,
Sumos de pretéritas vontades,
Que reestréiam como novas
Nesse peito de geleira e fogo,
Nessa alma de mil brotações,
Na recorrência dos ocasos,
No faz-de-conta das horas,
Que nem Deus ousa parar
Porque são sagradas as rotinas,
E sangrados os martírios.
Porque a natureza contêm toda a matéria-prima do recriar-se,
Da morte-vida do que revive em mim.
Do que revisito em meu nascedouro,
Contemplo em lembrança inédita
A manjedoura ou o berço esplêndido?
Ócio indócil,
Então posso ou não crer
Na colheita próxima
De minhas extravagantes
Epifanias?
Em tempo: A natureza é revivida em cicatriz,
Ou renovada em mancha de nascença?
(Roberta Tostes Daniel)
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