RIO DO SONO
Rio que lav(r)a-me:
túmulo de anzóis
no meio da corrente
com suas placentas gigantes
fazendo nascer em mim
um mar de oferendas.
No ovário desse leito
dorme entre areias exaustas
o menino-náufrago
que um dia foi devorado
por cardumes de sonhos.
O chão sob essas águas
me afaga
(ou me afoga)
entre mercúrio, bauxita e miasmas,
mas a superfície trêmula
apre(e)nde no meu silêncio
as lições de se perder nos oceanos.
Os rios de mim me levam
mas não limpam
a rugosa poeira dos meus anos.
(Ronaldo Cagiano)
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